segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ao som de um blues.

Seus olhos verdes o perdem em um mar.
Ele navega por eles, e por desejos, e por vontades.
Ah, ainda se algo o fizesse agir.
Mas não, ele não vai;
e não julga ser por medo.
Não um medo comum, ou de procedência conhecida.

É sim um temor.
Um medo que turge seus pensamentos;
paralisa suas ações;
que fecha sua garganta,
que grita por ações irracionais.

As palavras lhe vêem a cabeça,
ele pensa em mil dizeres,
mil olhares.
As mãos estão a um levante de distância,
mas essa nunca pareceu tão longa.

Longa como a maratona dos gregos,
longa como a odisséia.
Sente como se sua mão tivesse de sair de Tróia,
e tivesse de chegar em Ítaca.

Olha para seus fio louros de cabelo,
depois para seus olhos navegantes,
enfim para seus lábios,
sensíveis; frágeis; lindos.

Estremece, consegue pensar no que dizer.
A empolgação é angustiante.
Ele olha, consegue sua atenção;
Sua boca se abre, seu olhos se fitam;
mas as palavras lhe travam nos dentes.
Dentes de um sorriso falso,
um sorriso só.

E assim ele continua;
Sozinho,
quieto.
Ele permanece no silêncio...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O que todos dizem.

Como falar de amizade sem defrontar o clichê?
Eles, sim, são os maiores amores;
na vida as maiores companhias;
nas brigas, as maiores dores;
e de súbito as maiores famílias.

Nem todos duram o quanto queríamos;
mas enquanto duram são eternos.
Se todos durassem, com certeza não aguentaríamos.

Queremos todos ao mesmo tempo;
queremos nenhum em momento algum;
queremos um, que seja, ao menos;
mas sempre uma parte deles queremos.

Espero na vida ter vários;
por ela também perder uns;
e quando morrer, pra dar falta de mim
   [pelo menos alguns.

Cansei do clichê, então pararei de escrever;
mas que saibam todos os meus
que os amo, e temo-os perder.

(Tá um tanto quanto idiota, e como disse e re-disse -hahahaha, clichê. Mas, bom, era sobre isso que queria falar, e desafio quem faça um poema sobre tal, sem cruzar o ridículo, ou o imbecil).

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Urge

A urgência do momento o chama;
O sangue punge por todas suas veias;
Será esse o seu derradeiro fim?
Não tem mais ciência de sua própria consciência.
Os próprios pensamento já deixaram de ser seus;
algo os toma por completo, e bombardeia-os com idéias que não são as suas.
Não tem mais controle sobre seus atos;
o desespero é total -cada suspiro uma tentativa de alívio, cada falha um agravante sistemático.
Seus escapes cada vez parecem mais insignificantes.
Até quando será que durará?
Será que eles tem de durar?
Não durarão, ele sabe que não durarão -se ele tomar uma atitude.

...

Sua consciência some.
Seu desespero some.
Seu medo some.
Tudo para.
Tudo.
Para.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Platônico

Ah! Que sensação diferente que é vê-la entrando na sala. O ar muda, fica mais leve, a respiração acelera, meu sangue corre mais rápido pelas minhas veias, e a ansiedade... Ah, a ansiedade... Motivação dos meus delírios.

            Ela é linda – não nos parâmetros globais europeus – mas é linda. Seu cabelo castanho que cai sobre metade de sua face branca com lábios carnudos rosados. Ah, seus lábios... Lindos, imagino serem doces como o mel.  Seu corpo é uma escultura, uma escultura que parece eu mesmo tê-la esculpido por tanto ser do meu agrado.

            Todo dia chego e já a procuro. Quando não a vejo, fico calmo, mas triste. Seguro, mas insaciado.

Sei que não posso consagrar o que sinto, mas só de vê-la já é sinto quase o  suficiente. Tenho vontade de tocá-la, de lhe falar ao ouvido, ou de simplesmente lhe falar. Mas o que dizer? Não sei nada sobre ela. Não sei seus gostos, preferências, vivências, aventuras... Nem sequer sei seu nome. Só sei que ela me encanta.

            Hipnotiza-me como uma lâmpada hipnotiza suas mariposas, como um mágico hipnotiza suas vítimas.

            Ah, o que eu daria para ter uma conversa só que seja com ela. Mas, volto a perguntar, o que lhe dizer? Não saberia. – Olá, você vem sempre aqui? – perguntas assim me vêem a mente, como um início de conversa, mas ela é mais do que isso, ela é muito mais do que isso. Ela merece um diálogo lindo, eloqüente, com perguntas e respostas refinadas, com palavras a sua altura, e nada menos.

            Eu, um leitor mediado, conhecedor de poucos vocábulos, não teria palavras pra descrever o que preciso. Nem sei ao certo o que gostaria de descrever a ela. Mas como seria bom descrevê-lo...

            Acho que vou lhe falar sobre as flores, sobre o sol, sobre o mar. Sobre todas as coisas que são belas por natureza, quem sabe assim ela me entenda... Não, não seria suficiente. Eu teria de ser mais específico, muito mais específico.

            Sei que o que quero está muito longe de meu alcance, mas continuo refletindo, continuo escrevendo em meu caderno imaginário, e até o dia que me vier o que falar, o que descrever, ou contar a ela, sigo só contemplando, me hipnotizando, e me encantando.

(criado em 16/03/2010 - achei interessante colocá-lo, mesmo já sendo um sentimento antigo...)