Sentado sozinho, no entanto muito mal acompanhado, não consigo parar de pensar na solidão. Não só na minha, mas como na solidão em geral.
Tudo está escuro em volta, estou sentado em uma cadeira, uma cena de filme com os holofotes todos mirado em mim, me iluminando, contemplando o triste abandono. Ah, mas tudo isso não passa de poesia, porque o que realmente está me iluminando é um daqueles estrobos de festas de aniversário; e não estou sentado em um filme, e sim em uma simples cadeira, com um copo de caipirinha extremamente doce, em uma festa realmente mal iluminada (se ignorarmos o artefato de luz que quase me cega).
As vozes ao meu redor vão desaparecendo, e eu duvido que seja efeito do pouco álcool que eu, deploravelmente, ingeri. Vejo as pessoas, vejo suas bocas se mexendo, vejo suas faces reagindo ao que foi dito, mas não ouço nada, nem sequer a música deprimente a qual estão dançando. Estou, por completo, abstêmio de todos eles.
Às vezes até penso que se fechar os olhos por alguns instantes, quando reabri-los ninguém mais estará lá. Prática inútil, já que fiz isso umas três vezes e todos continuaram a macaquiar suas danças. Mas o fracasso dessa experiência não me abala, já que nem sequer sinto suas presenças; o único sentimento é que nem estão realmente lá, não passam de ilusões.
A minha vontade é de gritar. Gritar o mais alto que minhas cordas vocais me possibilitarem. Gritar para acordá-los, trazê-los de volta a ‘verdadeira’ realidade, trazê-los de volta ao ‘pensar’, ‘entender’, ao ‘sentir’ – sim, sentir, já que tudo que descrevi acima foi o sentimento do vago e do inexistente.
Ou ainda gritar para que percebam minha existência, que estou aqui junto deles; para quem me levem de volta para o mundo deles, para essa realidade falsa, sem sentido.
Só que não sei o que seria pior, transformar todos em pessoas sozinhas, confusas e tristes, ou me tornar, me transformar em uma ilusão, mais um no meio da multidão, automatizando e macaquiando meus pensamentos, movimentos e ações.
Logo desisto da idéia, e continuo sentado no canto com meu copo de bebida doce, sem ouvir, sem sentir, só olhando, somente observando...
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